quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

>>Especial 90 anos de Primeira Guerra Mundial


A construtora do mundo atual

Há 90 anos o mundo via o fim do então maior conflito da história, que não só redesenhou as fronteiras do mundo como também demonstrou que a paz que acreditávamos existir ainda estava muito longe de ser alcançada.

 


Philipe Augusto Bastos 


O mundo sofreu varias transformações para chegar ao que é hoje, tanto geograficamente quanto sócio-politicamente. Mas, de todos os episódios vividos no inicio do conturbado século 20 o mais marcante com certeza foi a primeira guerra mundial. Apesar de acreditarem que o seu início se dá em 24 de julho de 1914, com a morte do arquiduque Francisco Ferdinando, é errôneo pensar que a grande guerra, como também era conhecida, se limita a um assassinato político causado por um jovem sérvio que pertencia a uma organização que buscava a independência de seu país do então ainda poderoso império Austro-Húngaro. Para entendermos realmente a primeira guerra, devemos nos voltar para o séc.XVIII, em especial para a África, durante o processo de divisão da mesma pelo imperialismo dos paises europeus.

A África como muitos de nos sabemos, se mostrou muito útil para os paises europeus, que a tragaram como sanguessugas e que se aproveitando de sua fraqueza militar, engordaram com os recursos ali existentes durante todo o período mercantilista. Com a crescente industrialização e o aumento da produção européia houve a necessidade de se expandir o mercado consumidor que novamente levou o continente africano a ser palco, agora, de um conflito por consumidores, que rasgariam o território africano de acordo com o interesse europeu, sem levar em consideração rixas tribais causadoras de guerras civis que perduram até nossos dias. Essa divisão, apesar de tudo, não satisfez todos os paises europeus como a Alemanha e a Itália, que se achavam desfavorecidos com a partilha feita.

 

Com a semente já plantada tudo o que se fez foi regar e esperar que a muda brotasse e a árvore crescesse, sendo os frutos colhidos em 24 de julho de 1914, onde se aproveitando da morte do arquiduque, os paises da tríplice entente (França, Grã-Bretanha e Rússia) e da tríplice aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) se digladiaram por atritos antigos em busca de uma possível “vingança”, como entre a Alemanha e a França pelos os territórios de Alsácia e Lorena antigas composições da França e que agora davam auxilio ao progresso alemão com suas jazidas de ferro e carvão, bases para a indústria.

 

Apesar de todas as desgraças trazidas pela guerra, devemos observar o lado positivo desse conflito que foi o responsável pelo maior e mais rápido avanço da época. É em meio a esses turbulentos 4 anos de conflitos que vemos a consolidação e aperfeiçoamento do avião e do submarino invenções  que se tornaram de grande importância estratégica durante a guerra e que hoje se tornaram importantes meios de transporte e de pesquisa, respectivamente. Para as comunicações temos utilização em larga escala do telegrafo que facilitou a introdução posterior do telefone e do aperfeiçoamento das malhas ferroviários que agilizavam o transporte de suprimentos e soldados, e que futuramente serviram positivamente para a interligar regiões de difícil acesso e para encurta o tempo que se levava para chegar nessas regiões. Vendo estas realizações é que percebemos o importante papel da primeira guerra, também como impulsionador do desenvolvimento do homem no século XX, finalmente o trazendo para a modernidade.

Com o fim da primeira guerra o cenário que vemos é de um mundo não só destruído como também totalmente repaginado, constituído de novos paises como o Iraque e a Lituânia; de fronteiras como a da Alemanha, que foi esquartejada; de uma nova superpotência, como os EUA, o verdadeiro vencedor, já que não teve uma só bala inimiga disparada em seu território e suas fabricas ficaram intactas para que pudessem posteriormente vender para os paises destroçados o que lhes fossem necessário para se reconstruírem; e principalmente de idéias, pois foi durante e depois da  primeira guerra é que vemos as ideologias socialistas e nazi-fascistas se consolidando, que foram de fator importante para construção de nossa sociedade atual, comprovando assim a relevância desse momento não só na construção de nossa historia como também na construção de nosso mundo.          

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

1969 - 2009 - Mais um ano redondo para história.

O ano que vem chegando não vai ser muito diferente de 2008. Esse ano lembramos algumas datinhas importantes para o mundo da história. Tivemos 200 anos da corte portuguesa no Brasil; 150 da Lei Áurea; 100 da imigração japonesa; 50 da Bossa Nova e da  primeira Copa do Mundo que o Brasil ganhou; lembramos de 1968 - O Ano que não terminou para o Brasil e para o mundo e, por fim, comemoramos os 20 anos de Constituição Federal no Brasil. Ou seja, foi um ano redondo para História. 

O leitor atento ao blog Atos e Fatos da História sabe que o ano de 2009, também, nos traz umas datinhas importantes, como a queda do Muro de Berlim, Revolução Cubana e a Chegada do Homem à Lua. Portanto, espere que o AFH, em 2009, virá redondinho para você. Um bom 2009! 

A trajetória do Movimento Estudantil no Brasil


O caminho traçado pelos estudantes em quase dois séculos de luta e as influências do Movimento Estudantil, como Teorias Iluministas, Woodstock e Revolução Cubana, que sacudiram as Universidades.Uma viagem na história do ME e a sua "cara" na atualidade.


Afonso Bezerra 


Ainda existe o Movimento Estudantil? Essa pergunta permanece no imaginário de todo cidadão brasileiro quando ele vê nas telas da TV ou na internet alguma notícia sobre protestos envolvendo estudantes e o estado brasileiro. A imagem que se destaca na lembrança é a da grande movimentação de resistência em 1968, durante o endurecimento do Regime Militar, mas a história de luta dos estudantes é longa e, às vezes, nem muito branda. O  caminho seguido pelos estudantes foi muito longo e cheio de oscilações: vivia naquela linha que divide um movimento combativo e uma atuação pelega. Das primeiras influencias e ações no século XVIII até os dias atuais, os estudantes têm o mesmo papel dentro da sociedade: ser a vanguarda da luta social.  

A existência é de longas datas. No final do século XVIII, jovens da alta classe brasileira retornavam ao país, depois de um bom tempo de faculdade na Europa, querendo por em prática as teorias dos famosos livros do século das luzes. As bases teóricas que esses jovens depositam num Brasil ainda agrário e colônia transformam, embora que em pequena proporção, a realidade brasileira. A proporção é menor devido aos interesses da elite, que adaptavam as idéias libertárias européias ao seu modo de vida aqui no Brasil.  Da participação na Inconfidência Mineira, passando pela luta republicana e a favor da abolição da escravatura, até a formação da UNE durante o governo Vargas, a luta foi permanente e ofensiva contra as atrocidades do estado cometidas contra a população e a comunidade acadêmica.

A UNE – União Nacional dos Estudantes - foi criada no ano de 1937 e foi considerada a entidade de maior  representatividade do meio estudantil, porém ficou em águas mornas durante um bom tempo, devido à repressão do governo Vargas. Naquela época os movimentos sociais estavam desligados por conta da repressão ou estavam na “baia da saia” do governo, recebendo dinheiro em troca do silêncio. Com a influência dos comunistas, liderados por Luís Carlos prestes com a fundação do PCB em 1922, as chamas combativas reacenderam nas faculdades, agitando quem queria um Brasil melhor que aquele. Sempre em busca do progresso e do desenvolvimento, faz-se a marca da tropa de choque da revolução social brasileira.

Sempre presentes nas transformações políticas e sociais, o ME foi, em algumas épocas, carro chefe das mudanças no país. Após o Golpe de 1964, as entidades estudantis, puxadas pela UNE, foram mais que importantes para criar uma oposição construtiva e determinada na luta por liberdade. Mas, como qualquer movimentação política tem sua inspiração, o ME tinha a sua. Naqueles ares pós-64, liberdade era uma palavra fora do dicionário, porém muito aspirada por quem queria um Brasil nos trilhos do progresso. É bem verdade que a década de 60 foi um período onde a política internacional vivenciou a angustia americana na Guerra do Vietnã e vários movimentos surgiram contra a situação imposta pelos EUA.

Grandes revoluções  influenciaram a revolução brasileira durante o Regime Militar. Cinco anos atrás tivemos a Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro e Enersto Che Guevara. Uma luta travada nos moldes militares, trazendo como essencial posição revolucionária a disciplina. O sucesso da luta de Che e Fidel contra o regime de Fulgêncio, que era um fantoche americano, exaltou a juventude brasileira, que tinha a luta em Cuba como exemplo de exaltação e combate. Depois de longos, cansativos e infrutíferos cinco anos em conflito no Vietnã, os EUA viram surgir um movimento de contracultura, o famoso Woodstock. No ano de 1969, meio milhão de pessoas insatisfeitas com a crise do sistema, aderia à idéia do Fugere Urben e partia para o campo cantar “Faça amor, não faça guerra.”, em oposição às atitudes americanas.  

 

A disciplina e rigidez de Cuba junto com a transcendência da liberdade em Woodstock foram ingredientes fortes para o prato da revolução brasileira. A França com seus estudantes também teve papel importante na luta aqui no Brasil. Romper com os Militares virou a ordem do dia e votar era o sonho de cada jovem. Em 1984, a UNE com o PCdoB e o PT – à época partidos de esquerda – foram às ruas lutar por Diretas Já. E conseguiram, embora que sofrendo algumas restrições e redundâncias.  Em 1992 ganham destaque no engodo, comandado pela Globo, dos chamados caras pintadas para tirar Collor do governo. Na luta por acabar com a corrupção no governo brasileiro, os estudantes pintaram a cara de verde e amarelo e pediram o Fora, Collor. Esse movimento marcou o inicio da modernidade do ME.

No apagar das luzes do governo Liberal de FHC e caminhando para a primeira eleição de Lula – depois de três tentativas – a UNE realizou seu objetivo de lutas, nos quase 40 anos de militância. E é justamente por isso que muita gente acredita que o ME não existe mais: pela falta de combatividade e da inerência ás medidas do governo Lula, que não correspondem aos anseios antigos e comandados pela UNE. Hoje, o que marca luta estudantil é a briga pela não aprovação do REUNI, que é um decreto do Governo Federal que abre as portas das Universidades, ampliando o número de Vagas sem qualidade de ensino. O REUNI, hoje, é detentor de muita controvérsia.  Mesmo sem tanta iluminação combativa, agindo à surdina revolucionária, o ME permanece atento as mudanças e cria suas ramificações, rompendo com a  UNE, que não é mais a mesma.

 


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cartas de um filósofo

O professor de Filosofia Eudes Henrique passa, a partir de hoje, a escrever todas as terças-feiras uma carta de filosofia para o blog.



CONCEPÇÃO FREUDIANA SOBRE A RELIGIÃO: A RELIGIÃO É UMA ILUSÃO INFANTIL

Em o Futuro de uma ilusão, Mal-estar na civilização, Moisés e o Monoteísmo, Totem e Tabu, Freud vai dar uma atenção toda peculiar a problemática da religião. Para Freud a religião não passa de uma mera ilusão infantil. É dessa ilusão que provém e é essa quem a sustenta. Freud não só vai mostrar como se dá a ilusão, como também aponta as saídas para o sujeito. Talvez o principal papel da Psicanálise, ancorada pela ciência e pelo “deus Logos”, seja dar ao sujeito a capacidade de adaptar-se a realidade, independente da religião.

O nosso autor tenta nos mostrar que a religião surge como uma resposta imediata a uma ausência deixada pelo a perda do pai, como veremos adiante. Mas há também de se notar que a religião busca alicerçar-se sob aquilo que é mais subjetivo no homem, o desejo. É justamente por isso que Freud a denuncia como sendo uma ilusão, porque esse desejo humano é insaciável e é falso querer pretender preencher esse vácuo por intermédio de algo tão indiferente à própria natureza do homem (retomo aqui a idéia de religião enquanto agência “moralista” que se propõe a domar o homem).

          “A religião, é claro desempenhou grandes serviços para a civilização humana. Contribuiu muito para domar os instintos associais. Mas não o suficiente. Dominou a sociedade por muitos milhares de anos e teve tempo para demonstrar o que pode alcançar. Se houvesse conseguido tornar feliz a maioria da humanidade, confortá-la, reconciliá-la com a vida, e transformá-la em veículo de civilização ninguém sonharia em alterar as condições existentes1.”

A própria religião se autodenuncia quando propaga a construção de um outro Reino, que se inicia ainda aqui na terra. Tal propagação diz claramente de sua ineficiência quanto aos anseios íntimos do homem. Se ela, de fato, fosse uma resposta não se precisaria propagar um por vir como garantia, pois esse reino que ela propaga já estaria implícito no seu discurso. Acusa Freud: “não é segredo que os sacerdotes só puderam manter as massas submissas à religião pela efetivação de concessões tão grandes quanto à essa natureza instintiva do homem”.

A religião nasce juntamente com a civilização, e junto com ambas nasceu também a Lei, a norma e é essa lei ou norma quem as legitima. Nasceram com a pretensão de “civilizar” ou socializar o sujeito. No entanto, o percurso que fizeram todo esse tempo não foi o mais favorável ao sujeito, pois o desconsidera completamente. Não há espaço para o sujeito em sua subjetividade, esse é o mal da civilização.

Eudes Henrique.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

>> 20 anos de constituição

Entrevista rápida com o professor de História Antônio Gama

Um bate-papo rápido por e-mail com o professor de História Antônio Gama sobre os 20 anos da constituição federal. Confira:


Afonso Bezerra


AFH - O cenário político no final da década de 1980 foi de intenso conflito, meio que um estuário. Ninguém sabia mais quem era direita, quem era esquerda. Tanto é que José Sarney, que foi do regime militar, era presidente e participou da construção da constituição. Analisando esse ponto político, podemos considerar que vivemos numa democracia de fato e de lei?

AG - Historicamente a democracia apresentou algumas limitações. Em minha opinião nossa democracia é genuína, contudo ela não é a garantia de igualdade social.


AFH - Em 1988 o Brasil vivia um período de muito alvoroço ideológico, digamos. Era um fim de um regime militar, uma juventude militante queria demonstrar força política no voto, entre outras coisas. Esses fatores psíco-políticos mexeram na formação da constituição de 1988 e ninguém conseguiu perceber o teor anti-democrático?

AG- Não acredito que existiu este aspecto anti-democrático. Outro aspecto que gostaria de argumentar é que o processo de redemocratização do país esteve inserido numa conjuntura mundial mais abrangente, contudo é bem verdade que alguns entulhos ditatoriais estão presentes em nosso cenário político.


AFH - 20 anos depois de instituída, a constituição gera polêmica. No Artigo 5° diz que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; e é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Mas, na realidade, o que percebemos é que essa liberdade é mais restrita aos "grandes" nomes de empresas de rádio ou Tv. Inclusive, nos últimos anos, criou-se um lei de proteção ao meio de comunicação, vedando as rádios piratas.Além desse, temos o Artigo 1° que diz que todo cidadão brasileiro, independente de crença, raça, etc, tem direito a soberania e qualidade de vida. Ou seja, os pontos que citei são completamente contraditórios com os fatos. Podemos considerar esse paradoxo como ponto de causa da fragilidade social brasileira?

AG- O grupos políticos que comandam o país estabelecem uma certa reserva "ideológica".O contraditório é legítimo e faz parte do jogo democrático. Costumo dizer que a democracia é uma festa,todos podem entrar na festa, mas a boa musica, a boa comida e a boa medida é limitada a alguns.


domingo, 7 de dezembro de 2008

>> 20 anos de constituição



"Mentiras sinceras me interessam"


O ano era 1988 e já tínhamos completado quatro anos de "redemocratização". Nascia, então, a nossa atual constituição, que é detentora de grandes controvérsias quanto a sua existência e vigor. Em uma série de dois posts, o blog se aprofunda em várias vertentes que contribuem para o entendimento da força política da constituição federal e faz um balanço da democracia brasileira nessas duas décadas de "liberdade" após o regime militar.



Afonso Bezerra

Em 1964 os militares davam o golpe e assumiam o poder do maior país da América do sul, territorial e politicamente falando. O Brasil acordou tendo em seu governo rifles, fardões, uma postura irredutível e uma sanguinária repressão exposta e sem medir proporções. Jornalistas ou qualquer cidadão que mostrasse seu ponto de vista, e ele sendo contrário ao regime, teria pouco tempo pela frente de liberdade ou, até mesmo, de vida. Marcados em calendário, foram exatamente 20 anos de ditadura militar. Em 1984, no governo gerenciado pelo general Figueiredo, o Brasil entrava na rota democrática e caminhava para os braços do liberalismo, iniciado por Fernando Collor de Melo em 1989. Mas, antes disso, tivemos um processo lento e árduo da consolidação de um regime democrático, embora que no papel: a eleição parlamentarista de Tancredo Neves - com sua morte, assume Sarney - e toda uma campanha presidida por Ulysses Guimarães pela formação da constituinte, por eleições diretas e por um sufrágio universal.

De uma origem aristocrática e de uma postura firme diante dos púlpitos parlamentares, Ulysses Guimarães, então do recém-modificado PMDB, tornou-se um emblemático e estranho político popular devido à sua postura no engôdo da construção da constituinte. Em 1984, por todo Brasil, O senhor diretas, como ficou conhecido, ganhou milhares de fãs e admiradores por sua posição a favor de uma democracia, na luta pelo voto e por um governo presidencialista no Brasil. Amigos ou não, a relação de negócios envolvendo senhores políticos e senhores empresários - principalmente de comunicação - foi se apertando com a postura da Emissora Rede Globo de Tv, que noticiou um comício das Diretas Já com 100 mil pessoas, na praça da Sé em São Paulo, como uma comemoração de aniversário da cidade. A repercussão foi dura para os caciques que em cima do palanque estavam e contavam com o apoio da imprensa da massa. Mas a emissora se mostrou ainda ligada ao regime anterior. Tempos depois, vendo o sucesso da caravana das Diretas Já e a adesão popular crescendo, muitos políticos que questionavam a mudança política do país, viraram grandes defensores da democracia e da renovação no Brasil, e no mesmo caminho seguiu a imprensa submissa: onde o poder apontava desembarcar.

Costurando a situação, os oportunistas se abraçam em busca do poder na renovação política. Com o anúncio da volta do regime presidencialista e pelo voto do povo, a população brasileira se animou e foi às ruas vibrar por essa mudança. Mas nem tudo era tão bom como eles pensavam: havia um aviso de que o primeiro presidente da redemocratização seria eleito pelo parlamento brasileiro, com o álibi de que era para manutenção e estabilização do processo político, visando conter possíveis golpes de retorno militar. A contradição do termo redemocratizar começa logo aí, na redemocratização. As esperanças se sustentam na fé inquebrantável do povo brasileiro. E todos unidos foram até 1988 esperando ouvir a voz dizer que "o povo vai eleger o presidente".

O ano de 88 chegou e com ele a transformação social brasileira: a criação da constituição. A verdadeira intenção na formulação deste artifício jurídico era de criar uma ampla defesa do povo brasileiro e de uma camada que é mais oprimida, como os índios e os camponeses, com a demarcação de terra. A criação do documento dos Direitos Humanos, buscando atenuar o preconceito com negros e homossexuais e, inclusive, ampliar a participação do povo brasileiro na legislação através de seus representantes Deputados ou Senadores.




Folha Imagem/Lula Marques



A realidade, duas décadas depois, é triste. O povo que tanto esperou chegar 1988 para poder votar, afoga-se nessa turbulência social em que vivemos e só serve para legitimar as eleições, que se repetem em dois e dois anos, como se fossem uma manutenção de interesses da restrita alta classe brasileira. A firmeza e combatividade ficam julgadas como irrisórias e ineficientes, porque a maioria dos parlamentares é formada por grandes empresários, fazendeiros, etc. Durante 20 anos vivemos sob a promessa de Reforma Agrária por vários governos, inclusive por um que se dizia dos trabalhadores, dos pobres, como foi a chegada de Lula ao poder. A pergunta que não cala é como um parlamentar, dono de latifúndio, irá aprovar uma emenda constitucional que vai deliberar a reforma agrária no Brasil?

A imparcialidade e a defesa de uma mudança social fica restrita ao discurso durante as eleições. Além desses problemas, temos a realidade crua da não execução dos artigos inseridos na constituição, como a defesa da liberdade de expressão. Várias rádios com ideologia editorial nas linhas educativas foram fechadas com argumentos de que feriam a lei governamental contra as rádios piratas. Na verdade, as rádios são fechadas por serem incisivas na crítica ao governo, ao problema social brasileiro, diferentemente das rádios comerciais, que têm concessões renovadas automaticamente, e que tocam músicas pornográficas, sem nenhum crescimento cultural e crítico. Acredita-se que esse tipo de entretenimento é permitido com tanta facilidade visando o entrave ideológico da população contra os problemas do país, ou seja, é uma forma de manipular uma ordem social que beneficie o governo.

O que vem sendo noticiado nos últimos dias pelos jornais são, também, os 20 anos da implantação do SUS - Sistema Único de Saúde, que é uma prestação do serviço público na saúde. De certa forma, foi um grande avanço para as pessoas serem servidas com "qualidade" no atendimento médico. Mas o que se percebe hoje, duas décadas depois da implantação do sistema, são os hospitais em estado decadência, um investimento pífio no desenvolvimento de tecnologias para ampliar a pesquisa médica. Pessoas morrendo em filas, sendo atendidas nos corredores, um atendimento rude. Tudo isso é oriundo da falta de atenção e o mal investimento de políticas públicas do governo. A educação do Brasil, nesses 20 anos de constituição, segue no mesmo trilho que a saúde: em estado de decadência. O número de violência nas escolas públicas aumentam consideralvente. Jovens com 15 e 16 anos, que estão terminando os estudos, saem da escola parcialmente alfabetizados, com dificuldades em leituras e os professores não recebem os investimentos devidos para o sucesso na sala de aula.

Com essas informações o que se vem a entender é que o governo, ou melhor, o estado tem tido como função ser um divisor de águas na política social: dividir o Brasil em Castas: Ricos x Pobres. Enquanto os sistemas de saúde e educação públicos andam em deficiência, os privados recebem prioridades do governo. Como exemplo temos dois programas sociais ligados à Educação, que são o Rumo à Universidade e o Reuni, que é o incentivo à contração da propriedade privada, responsável por essa disparidade social existente no Brasil. O que se constata com essa realidade é que as mentiras sinceras interessam e alimentam a idéia de que vivemos em uma democracia




*As fotos são do Folha Imagem/ Lula Marques.
 
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