sábado, 25 de julho de 2009

Pelo direito a terra: a militância do Movimento Camponês na atualidade.

Afonso Bezerra.

A enxada de cabo grosso e o trabalho árduo diário são as causas das mãos repletas de calos, feridas e sofrimentos que um pobre camponês do interior do Brasil carrega até seus últimos dias. Muitas vezes prematura, a morte é uma realidade no cenário do camponês sem muito assombro, ou até mesmo sem ineditismos e surpresas, justamente por viver uma vida condicionada, limitada e, sobretudo, sofrida. Mas nem sempre são as enxadas as causadoras do sofrimento do camponês.

Além dos danos físicos impostos pelas atividades do trabalho, a ferida que um homem do campo carrega não é a que fica na aparência, e sim aquela que despedaça o coração, mutilando vidas e sonhos, como é a ferida da luta pelo direito a terra disputada contra os latifundiários, que cercam o campo brasileiro há 500 anos.

Diante dessas circunstâncias do homem agricultor, que convive no presente com males criados no passado, em diferentes momentos da história surgiram movimentos importantes na política do país que pensavam numa forma de solucionar o problema agrário no Brasil. Foi o caso de Canudos, ainda no século XIX; Ligas Camponesas, nos anos 50 e 60 e a atual manifestação política do MST – Movimento dos Sem Terra. Todos esses são influências fundamentais para os grupos que se organizam no século presente.

A socióloga Maria Glória Gohn aponta em seu livro que a década de 1990 foi, substancialmente, marcada por uma transfiguração na postura dos Movimentos Sociais. Foi um período marcado pela ascensão do neoliberalismo, representado pela liderança de FHC, e pelo surgimento de uma nova estrutura nos Movimentos Sociais que, de certa forma, coagiam com a ausência do Estado diante das fragilidades pelas quais o país passava. As ONGS são responsáveis por toda essa transformação na militância e pela mudança no foco e direção dos dos Movimentos Sociais.


Tudo isso, que perpassou toda a década de 1990, tocou o MST, que tinha uma intensa ligação com os Partidos dos Trabalhadores. Os dois, tanto o PT quanto o MST, nasceram numa conjuntura que depositava total confiança no processo eleitoral brasileiro, atestando tal como o maior instrumento democrático para a transformação social no país. E, em síntese, as eleições são um ponto importante da Democracia, mas não dentro do padrão decadente que se tornou o processo brasileiro, e muito menos a principal essência da Democracia.

Com isso, na ânsia por transformações país, as duas organizações fizeram de sua última utopia ganhar as eleições. Tal fato fez com que a Luta no campo ganhasse o mesmo rumo que luta pelas melhores condições do trabalhador, porque o MST se achou, e o é, parte do governo, e o PT se entregou às negociatas das coligações eleitorais. Ao se ligar a essas vias políticas, o PT e o MST acabam por viver na dualidade nefasta dos interesses e acabam esquecendo-se da vida precária do Homem no campo e das condições de trabalho do homem.

O PT e MST, que juntos organizaram as maiores movimentações políticas do País Pós-64, deixam uma marca não muito positiva na história dos movimentos populares, muito mais por essa omissão e coalizão com os que criam as feridas no homem do campo e da cidade, do que por qualquer coisa. E isso marca, sim, a grande ausência do Movimento Camponês, que mudo sua tônica de crítica diante do atual governo.

Depois de oito anos de um governo populacho, acreditar na Reforma Agrária através do INCRA tornou-se uma luta amplamente inviável, porque além de afetar interesses massivos da elite agrária que sustenta e é sustentada pelo governo, é um belo discurso eleitoral. E combina com objetivo de nossa “democracia”: ganhar eleições!

Um comentário:

Phillipe Bastos disse...

É depois q chegaram ao poder se esqueceram de quem os colocou lá.
toda a ideologia foi esquecida em troca de apoio politico dos grandes latifundiaros e industriais, triste mais infelizmente é a realidade.
muito bom afonso!!!

 
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