terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cartas de um filósofo

O professor de Filosofia Eudes Henrique passa, a partir de hoje, a escrever todas as terças-feiras uma carta de filosofia para o blog.



CONCEPÇÃO FREUDIANA SOBRE A RELIGIÃO: A RELIGIÃO É UMA ILUSÃO INFANTIL

Em o Futuro de uma ilusão, Mal-estar na civilização, Moisés e o Monoteísmo, Totem e Tabu, Freud vai dar uma atenção toda peculiar a problemática da religião. Para Freud a religião não passa de uma mera ilusão infantil. É dessa ilusão que provém e é essa quem a sustenta. Freud não só vai mostrar como se dá a ilusão, como também aponta as saídas para o sujeito. Talvez o principal papel da Psicanálise, ancorada pela ciência e pelo “deus Logos”, seja dar ao sujeito a capacidade de adaptar-se a realidade, independente da religião.

O nosso autor tenta nos mostrar que a religião surge como uma resposta imediata a uma ausência deixada pelo a perda do pai, como veremos adiante. Mas há também de se notar que a religião busca alicerçar-se sob aquilo que é mais subjetivo no homem, o desejo. É justamente por isso que Freud a denuncia como sendo uma ilusão, porque esse desejo humano é insaciável e é falso querer pretender preencher esse vácuo por intermédio de algo tão indiferente à própria natureza do homem (retomo aqui a idéia de religião enquanto agência “moralista” que se propõe a domar o homem).

          “A religião, é claro desempenhou grandes serviços para a civilização humana. Contribuiu muito para domar os instintos associais. Mas não o suficiente. Dominou a sociedade por muitos milhares de anos e teve tempo para demonstrar o que pode alcançar. Se houvesse conseguido tornar feliz a maioria da humanidade, confortá-la, reconciliá-la com a vida, e transformá-la em veículo de civilização ninguém sonharia em alterar as condições existentes1.”

A própria religião se autodenuncia quando propaga a construção de um outro Reino, que se inicia ainda aqui na terra. Tal propagação diz claramente de sua ineficiência quanto aos anseios íntimos do homem. Se ela, de fato, fosse uma resposta não se precisaria propagar um por vir como garantia, pois esse reino que ela propaga já estaria implícito no seu discurso. Acusa Freud: “não é segredo que os sacerdotes só puderam manter as massas submissas à religião pela efetivação de concessões tão grandes quanto à essa natureza instintiva do homem”.

A religião nasce juntamente com a civilização, e junto com ambas nasceu também a Lei, a norma e é essa lei ou norma quem as legitima. Nasceram com a pretensão de “civilizar” ou socializar o sujeito. No entanto, o percurso que fizeram todo esse tempo não foi o mais favorável ao sujeito, pois o desconsidera completamente. Não há espaço para o sujeito em sua subjetividade, esse é o mal da civilização.

Eudes Henrique.

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